Clarice Ribeiro tem apenas 17 anos, recém-completos, e estreou em competições internacionais da classe sênior em fevereiro, quando levou a prata no Open Europeu de Varsóvia. Nascida em Manaus, a atleta do Minas Tênis Clube é apontada como uma das promessas do judô brasileiro, mas, por pouco, não seguiu outro caminho.
"Eu fazia escolinha de futebol em Manaus e participei de alguns campeonatos de futsal e futebol de campo. Pedi para trocar o judô por futebol, mas meus pais, inicialmente, não deixaram. Fiquei treinando os dois. No ano em que eu conheci o sensei Flávio Canto, treinei com ele e não quis mais sair, escolhi ficar no judô". conta Clarice à reportagem.
O pódio em Varsóvia não chamou a atenção de quem já vinha acompanhando a trajetória da jovem. Ela já tinha sido bicampeã mundial no sub-18, bronze no Mundial Júnior e campeã brasileira sênior, por exemplo. E tudo isso ainda com 16 anos.
"Queria ter sido campeã [em Varsóvia], mas sei que estou evoluindo. Foi a minha primeira conquista internacional no sênior e representa o início de uma nova etapa. Estou aprendendo e melhorando o meu judô no nível sênior, com a ajuda dos meus técnicos e da minha equipe. Espero grandes resultados porque estou treinando muito forte no alto rendimento."
A jovem deu os primeiros os no tatame ainda aos quatro anos, em uma academia em Manaus. "Comecei com o sensei Airton, e dos cinco aos 14 treinei com o sensei Aron, na Fort Judô Clube, que me treinou da faixa branca até a faixa marrom e me inseriu no judô competitivo".
Clarice colhe bons resultados no judô, mas já lembra de outras modalidades que curtia na infância. Dentre elas, citou também a ginástica artística. "Pratico esportes desde os meus 4 anos. Gostava muito da [aula de] Educação Física na escola e os Jogos Escolares Internos eram muito bons, eu participava de várias modalidades. Depois do judô eu gostava de futebol, ginástica artística e atletismo".
"Responsável" pela escolha da jovem pelo judô, Canto cruzou o caminho quando foi à academia em que ela treinava. Depois, a relação se fortaleceu.
"Eu tinha 10 anos quando eu conheci o sensei Flávio, em Manaus. Ele deu um treino na Fort Judô Clube, onde eu treinava. Na pandemia eu participei do quadro dele, o 'quarentreino', no Instagram, e depois ficamos amigos."
LATINHA 'CAMPEÃ'
Clarice é tutora de uma cadelinha chamada Latinha, com quem "compartilha" as medalhas que conquista e faz postagens nas redes sociais.
Latinha tem 10 anos e foi resgatada pela família de Clarice enquanto fugia dos seguranças do condomínio onde a judoca morava.
"Ela entrou no condomínio onde eu morava em Manaus, os guardas tentaram colocar ela para fora, mas ela ficava fugindo. Então, foi para a garagem da minha casa e ficou debaixo do carro. Eu e o papai colocamos ela pra dentro de casa e apelidamos ela de vira latinha. Depois, convencemos a mamãe a deixá-la ficar. Ela é muito importante pra mim. Foi a mamãe que teve a ideia de fotografar uma vez, depois começamos a fazer com todas as medalhas", conta Clarice.
PENSA EM LOS ANGELES-2028
Clarice demonstra vontade de estar nos Jogos de Los Angeles, em 2028, e aponta que um dos sonhos no esporte é alcançar o topo do pódio em uma edição das Olimpíadas.
"Estou me preparando para esse momento [Los Angeles]. O meu principal [sonho] é ser campeã olímpica", diz.
Aos 17 anos, ela ainda divide a rotina entre treinos e compromissos escolares. A judoca quer fazer faculdade e aponta a possibilidade de fazer Educação Física. "Estou no último ano da escola e acho o Ensino Médio difícil, são muitas matérias, mas me esforço ao máximo para conseguir conciliar a rotina de treinos com os estudos. O curso [na faculdade] ainda não sei, mas, com certeza, será algo relacionado ao esporte. Talvez, Educação Física", contou.
'É UM FENÔMENO'
Flávio Canto considera Clarice "um fenômeno" e aposta que, em breve, ela pode ser medalhista olímpica.
O ex-judoca é um dos principais nomes da modalidade no Brasil. Bronze em Atenas-2004, ele tem outros diversos títulos no currículo, como o Ouro no Pan de Santo Domingo-2003, prata em Winnipeg-1999 e bronze em Mar del Plata-1995, além de medalhas em Mundial e Copa do Mundo.
"É um fenômeno maior, o nome do judô brasileiro na faixa etária dela. Eu a conheci em Manaus, ela treinava na Fort Judô, um grande amigo meu dá aula lá. Então a conheci menininha e, depois, na pandemia eu ficava dando aula online e ela era a aluna mais assídua. Fizemos vários treinos dividindo tela. Acabamos nos aproximando bastante. Para mim, é uma honra. Até hoje, fico lisonjeado", diz.
"Daqui a pouco ela vai ser medalhista, campeã olímpica. Isso é um fenômeno. Tocada, aquela atleta que todo mundo sonha em ter perto. Vai dar muita alegria para gente", completou.
Canto esteve no Prêmio Isabel Salgado, que ocorreu no Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro, no dia 6 de maio. O ex-judoca foi um dos jurados da categoria "Aurora", que premiou projetos de ex-atletas que promovem transformações sociais por meio do esporte.