A CBF conseguiu contratar o técnico italiano Carlo Ancelotti após uma longa relação de idas e vindas que começou em 2022.
Ancelotti sempre foi o preferido do presidente Ednaldo Rodrigues, que o chamou de "melhor técnico da história". A primeira procura ocorreu logo após a Copa do Mundo do Qatar, em dezembro de 2022.
Disposto a esperar, Ednaldo colocou o interino Ramon Menezes no comando por alguns meses e depois contratou Fernando Diniz, em julho de 2023, como "tampão". Tudo para tentar ter Carlo Ancelotti.
O plano da CBF era ter Ancelotti na Copa América, em junho de 2024, e Diniz teria essa dupla jornada entre Brasil e Fluminense por um ano. O presidente chegou a cravar o ex-treinador do Real Madrid como novo comandante da seleção.
Nesse meio-tempo, Ednaldo foi destituído do cargo na CBF por uma investigação sobre a legalidade da sua eleição. Ele precisou recorrer ao ministro Gilmar Mendes, do Superior Tribunal Federal, para ser recolocado no poder.
O presidente viu Ancelotti recuar e, pressionado, resolveu agir: demitiu Diniz e anunciou Dorival Júnior. Dessa vez, o discurso era de ter Dorival até a Copa do Mundo de 2026.
O Brasil de Dorival Júnior foi mal na Copa América, oscilou nas Eliminatórias e... O sonho de Carlo Ancelotti voltou, e outra vez durante uma briga. O anúncio de Ancelotti foi feito horas antes de uma audiência importante para o futuro de Ednaldo.
Preocupado com essa turbulência política, o mandatário apostou tudo em Carlo Ancelotti. Ofereceu o maior salário da história e escalou os empresários Álvaro Costa e Diego Fernandes para ajudar na negociação in loco na Espanha.
A cada derrota do Real Madrid, a esperança aumentava. A eliminação na Liga dos Campeões para o Arsenal foi decisiva. O presidente da CBF não queria se indispor com o chefe do Real Madrid, Florentino Pérez, e os resultados decepcionantes do Real abriram caminho para uma saída amigável.
Há duas semanas, porém, veio um percalço. A negociação que caminhava bem andou para trás.
Carlo Ancelotti acenou com o "não" para a seleção após a repercussão pública de sua negociação com a CBF e a irritação do presidente Florentino Pérez. O plano desde o início era evitar as manchetes.
Um intermediário da CBF, Diego Fernandes, apareceu ao lado de Ancelotti. A entidade e o empresário negaram, mas as imagens e a pressão do noticiário na Espanha fizeram o presidente do Real Madrid travar a negociação e sinalizar que não abriria mão da multa rescisória.
Com essa única carta no baralho, Ednaldo Rodrigues esperou, insistiu, melhorou as condições e conseguiu contratar Ancelotti. O sonhado treinador chega para um contrato inicial até a Copa do Mundo de 2026. Ele já estará no comando contra Equador e Paraguai, pelas Eliminatórias.
ESTRANGEIRO - Carlo Ancelotti não será o primeiro estrangeiro a comandar a seleção brasileira. O italiano de 65 anos ará a fazer parte de uma lista que por enquanto tem um uruguaio, um português e um italiano.
Todos eles tiveram agens bem breves pelo time nacional. Aquele que ou mais tempo à frente da equipe foi o uruguaio Ramón Platero, comandante do histórico Vasco da Gama de 1923, campeão carioca com camisas negras.
O desempenho no Rio de Janeiro levou Platero à seleção no Sul-Americano de 1924, com quatro partidas disputadas na Argentina. Foram dois jogos contra o Paraguai (vitórias por 5 a 2 e 3 a 1) e dois contra a Argentina (derrota por 4 a 1 e empate por 2 a 2). O Brasil foi vice-campeão.
Vinte anos mais tarde, foi a vez de um português ficar à beira do campo, em parceria com o brasileiro Flávio Costa. Jorge Gomes de Lima, o Joreca, era o técnico do São Paulo e foi o representante do estado paulista. Costa representava o Rio de Janeiro.
Eles dividiram a direção técnica do time em dois amistosos realizados contra o Uruguai, no Rio e em São Paulo, em maio de 1944. No estádio de São Januário, o Brasil goleou por 6 a 1. No Pacaembu, fez 4 a 0, com três gols de Jair da Rosa Pinto.
O adversário também era o Uruguai em 1965, quando o Palmeiras foi chamado a representar a seleção brasileira na inauguração do Mineirão, em Belo Horizonte. O argentino Filpo Núñez era o treinador da formação alviverde, que venceu por 3 a 0.
Agora, Carlo Ancelotti chega para exercer um trabalho mais duradouro. Seu contrato com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) vai até a Copa do Mundo de 2026, com possibilidade de renovação para o ciclo do Mundial de 2030.
Ao fim da última edição da Copa, em dezembro de 2022, pesquisa Datafolha mostrou que 41% dos brasileiros era a favor da contratação de um técnico estrangeiro. O número ainda era inferior aos 48% que se mostravam contrários, porém o levantamento apontava uma queda na rejeição.
Antes do Mundial no Qatar, havia 30% a favor e 54% contra. O fracasso da seleção sob comando do gaúcho Tite, com derrota para a Croácia nas quartas de final, mudou o humor e abriu um pouco mais a porta para, após longa negociação, chegar um italiano.